AURORA GRIS
Ainda é quente a noite e não dormi
Olho lá fora e vejo uma Aurora Gris
Quase chove e ainda não há sol
Não sei se o que sinto é ser feliz
Ou não sei se sonho ou não dormi
O que dá no mesmo se me invento
Porque a verdade é também mentir
Nesse dia quase ainda noite nessa Aurora Gris
Neo me importa o tamanho nem o todo
Tenho aqui tudo que sempre ou nunca quis
Ainda é quente a noite e não dormi
Olho lá fora e vejo uma Aurora Gris
Quase chove e ainda não há sol
Não sei se o que sinto é ser feliz
Ou não sei se sonho ou não dormi
O que dá no mesmo se me invento
Porque a verdade é também mentir
Nesse dia quase ainda noite nessa Aurora Gris
Neo me importa o tamanho nem o todo
Tenho aqui tudo que sempre ou nunca quis
SEDE DE AMOR
A tua sede de amor
Quis beber do meu corpo e alma
E depois naufragou
Teci uma rede de sonhos
Que te enredou
Era tanta água, tanto amor...
Tua alma tudo suportou
Tantas vagas, tanto abismo
Tanta dor e, depois, a calma
Tudo em ti foi essa sede
E esse amor
Tudo em mim, a rede
Feita de sonho invisível
Que nesse mar se perdeu
Que nesse mar transbordou...
***
tudo o que faço
já não parece meu
de mim se desprendeu
feito um laço
nó esgarço
pelo tempo
***
minhas saudades
enchem um poço de lágrimas
dentro dos meus olhos
já se pode ver o fundo
refletido nas estrelas
pontilhado de escuros
***
porque
essa pressa de paisagem
em janela de trem
porque esses olhos
prenhes de saudades
porque a vida é um fato
e há sonhos sob as casas:
telhados amontoados
pontilhados de verdura e esperanças
vestígios humanos
onde cantam galos
e água escorre em torneiras enferrujadas
mãos ensaboam trapos
alisam, enrugam, secam
repousam sobre parapeitos ásperos
cobertos de musgo
e crostas de sujeira secular
porque olhos baços, quase cegos
desafiam nuvens
olhando ausentes para o nada.
e eu aqui,
ocupada em sentimentos.
***
não existem mais
as carambolas
cortadas feito estrelas
flutuando leves e aguadas
dentro das jarras de vidro
debaixo dos arvoredos
verdeamarelos de minha vó
nem as mãos
da mulher que as cortava
sobre a mesa de madeira lavada
e nem o seu prolongamento
dentro dos meus olhos
nem a faca
afiada
apenas sonhos
trocados
como olhares
feitos de memórias perdidas
de outros lábios contadas
de outros olhos
fechados
permanecendo acesos
-antepassados
***
derramei meu amor num leito
desprovido de sonho e sentimento
-depois, entreabri meu peito
para que lhe açoitasse o vento
meu coração ainda pulsa aberto
pelos vestígios deixados dentro
pela amplidão vazia do deserto
que o eterno alijou do tempo
o amor sobrevive intrínseco
adormecido nas areias quentes
mas meu peito vai ficando seco
e minh’alma se deixando ausente
beberei águas de fontes frias
para saciar a sede dos desejos
serão sombras do sonho onde ias
naufragar tua boca nos meus beijos
depois terei tudo perdido
o verdadeiro espírito, escondido
o paraíso interior todo desfeito
e uma pedra bruta dentro do peito
derramei meu amor num leito
desprovido de sonho e sentimento
-depois, entreabri meu peito
para que lhe açoitasse o vento
meu coração ainda pulsa aberto
pelos vestígios deixados dentro
pela amplidão vazia do deserto
que o eterno alijou do tempo
o amor sobrevive intrínseco
adormecido nas areias quentes
mas meu peito vai ficando seco
e minh’alma se deixando ausente
beberei águas de fontes frias
para saciar a sede dos desejos
serão sombras do sonho onde ias
naufragar tua boca nos meus beijos
depois terei tudo perdido
o verdadeiro espírito, escondido
o paraíso interior todo desfeito
e uma pedra bruta dentro do peito
***
naufragas perdido nos mares
e tens as duas mãos feridas
te agarras nas pedras frias
te açoitam as franjas dos ares
tudo é uma batalha perdida
a morte te espera na praia
tua alma deserta e vencida
pelos amores desfeitos desmaia
quimeras perseguidas em vão
são tuas ilhas ausentes
são céus que inventas, são pão
são tua porção de sementes
são teus olhos no horizonte
cegos de tanta ilusão
são nuvens sobre os montes
fugindo na imensidão
são outros mundos silentes
cobertos de bruma e flores
são abraços e beijos quentes
numa cumplicidade de amores
naufragas perdido nos mares
mas tens um leme nas mãos:
os céus para te abraçares
e os teus sonhos por chão
naufragas perdido nos mares
e tens as duas mãos feridas
te agarras nas pedras frias
te açoitam as franjas dos ares
tudo é uma batalha perdida
a morte te espera na praia
tua alma deserta e vencida
pelos amores desfeitos desmaia
quimeras perseguidas em vão
são tuas ilhas ausentes
são céus que inventas, são pão
são tua porção de sementes
são teus olhos no horizonte
cegos de tanta ilusão
são nuvens sobre os montes
fugindo na imensidão
são outros mundos silentes
cobertos de bruma e flores
são abraços e beijos quentes
numa cumplicidade de amores
naufragas perdido nos mares
mas tens um leme nas mãos:
os céus para te abraçares
e os teus sonhos por chão
***
tudo o que faço
é sonho
tudo o que teço
recomeço
tudo o que peço
é nada
tudo o que tenho
é tudo
só quero ser
quem não sou
só quero ter
sossego e saber
tudo o que cedo
esqueço
tudo o que dorme
amanheço
quem me vê
um pedaço
não me sabe
inteira
tudo o que faço
é sonho
tudo o que teço
recomeço
tudo o que peço
é nada
tudo o que tenho
é tudo
só quero ser
quem não sou
só quero ter
sossego e saber
tudo o que cedo
esqueço
tudo o que dorme
amanheço
quem me vê
um pedaço
não me sabe
inteira
***
existe sempre
duas coisas acontecendo
ao mesmo tempo
uma por fora
outra por dentro
e um único jeito
de atravessar a ponte:
de mãos dadas
com o nada
e deixar guardadas
as outras formas
de expressar o sonho
primeiro por fora
depois por dentro
e tudo será somente
: ausência
existe sempre
duas coisas acontecendo
ao mesmo tempo
uma por fora
outra por dentro
e um único jeito
de atravessar a ponte:
de mãos dadas
com o nada
e deixar guardadas
as outras formas
de expressar o sonho
primeiro por fora
depois por dentro
e tudo será somente
: ausência
***
meus olhos
perdidos
na paisagem
embebidos
na miragem
sem fundo
de um poço
atração do abismo
frescor de aragem
paixão cega de um sonho
horizonte que se alarga
e me abraça
como céu que se espraia
sobre a secura da terra
meus olhos
perdidos
na paisagem
embebidos
na miragem
sem fundo
de um poço
atração do abismo
frescor de aragem
paixão cega de um sonho
horizonte que se alarga
e me abraça
como céu que se espraia
sobre a secura da terra
***
minha vida
não erra
por salas de espera
minha vida
se atira
pelas janelas
EUNICE MENDES: formada em jornalismo, possui vários livros organizados e tem poemas publicados em vários fanzines, revistas e jornais de todo o país. Também edita a folha poética A POETISA.
minha vida
não erra
por salas de espera
minha vida
se atira
pelas janelas
EUNICE MENDES: formada em jornalismo, possui vários livros organizados e tem poemas publicados em vários fanzines, revistas e jornais de todo o país. Também edita a folha poética A POETISA.
Simplesmente, maravilhosa. Ganhou uma fã. Parabéns, Benilson, pelo excelente trabalho de divulgação poética. A rede agradece.
ResponderEliminarJania Souza
Benilson
ResponderEliminarAgradeço pela divulgação de Eunice Mendes.
Um grande abraço,
Walmor
olá, eunice, sou andré boniatti, tenho saudade das nossas cartas. hoje tudo é tão virtual!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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