sábado, 21 de dezembro de 2013

GUILHERME PUPO FALCONNI



CANETA
Hoje peguei uma caneta
que só quer desenhar borboleta...
quando letra, falha, sulca, vinca, ralha,
nem uma palavra.
Só quer correr longe no papel, longas voltas,
circula, cruza, risca...
E outra borboleta...
Nem mais uma palavra.


EXPLICAÇÃO
Quem explica profundamente alguma coisa
é porque não entendeu.
A explicação é assim, uma troca,
um sacrifício,
uma imolação da coisa pela razão que explica.
A explicação é uma troca,
assim;
toda explicação é perversa
pois esconde um não saber;
toda explicação odeia a coisa,
pois nunca a explica toda.
Toda explicação odeia não saber,
isso porque teme.
Toda explicação teme não conhecer.


TEMPO
Teve um tempo,
uma casa,
alguns livros
e bobeiras...
Coisas como confeitos
num bolo mirradinho de recheio
dos olhares que não viram,
abraços amputados,
versos vetados,
e gosto de cigarro.
Teve um tempo
em que não sabia se era feliz.
E não sabia.
E de tanto não saber
se comungou que não era
a cumplicidade de não ser,
e assim,
a sintonia perfeita de acabar,
passar,
calar,
levar um pouco
e ir-se embora.


MOLEQUE
Hoje lembrei dos meus pés
mas não destes, e sim,
dos meus pés de menino
pés de moleque
pés de criança
o quanto é difícil nomear o passado:
"- quando eu era moleque..."
"- quando eu era pequeno..."
"- quando eu tava na faculdade..."
no passado eu não penso,
naquele tempo nunca pensei não estar.
Penso no tempo e em adjetivo,
penso os pedaços, substantivo.
Penso o verbo pensar.
Faz pouco tempo lembrei dos meus pés,
neste dicionário que ganhei de meu pai.


QUERO
Eu quero tanto
mas será outro
dia pra esse pranto


GUILHERME PUPO FALCONNI (São Paulo, 1975) é professor, bacharel e mestre em História pela Unesp. Atua no Ensino Fundamental e Superior em Taubaté, SP. Os versos acima pertencem ao livro 'Livro Último" (Scortecci). Contatos: profpupo@gmasil.com