domingo, 22 de janeiro de 2012
ALVARO POSSELT
Entrada secreta
- Como você entrou aqui? - perguntou-me o diabo.
- O cabo do elevador se rompeu!
O avarento
Detesto dever para alguém, mais ainda para um avarento. O vendedor de coxinhas ia toda tarde na firma.
Fiquei devendo dois reais a ele. Morreu. No velório, O filho da mãe de olhos abertos me secando.
Agora não devo mais nada. Peguei duas moedonas e pus nas vistas dele.
De gude
O netinho tem uma coleção de bolinhas. Tem buricão, carambola, acinho, chazinha e leitosa.
Agora apareceu com uma tal de caolhinha.
Fez sucesso no jogo de búrico até a mãe descobrir onde foi parar o olho de vidro do avô.
HAICAIS
Tarde no jardim -
Desprende-se do galho
uma borboleta
Novo calendário -
Recebem tinta fresca
as velhas promessas
Fogueira junina -
Se misturam às estrelas
fagulhas no céu
TERCETOS
Noite do espanto
Fui baixar um arquivo
baixou-me um santo
Meu violão me intriga
Morre de tanto rir
se lhe coço a barriga
Entre arranhões e lambidas
para cuidar de tanto gato
precisarei de sete vidas
Vou beber até que amanheça
Todos os problemas passam
Só fica a dor de cabeça
Preso todo cachorro late
Se eu fizer o mesmo
então vai dar empate
Não cresceu com fermento
Para o pão ficar grande
usei lentes de aumento
Alvaro Posselt é professor de português e revisor de texto.
Nasceu em 02/12/71. É curitibano. Participou de coletâneas de haicais, poetrix e miniconto.
Tem haicais e miniconto classificados em concursos. É colaborador do Jornal Memai - Letras e Artes japonesas.
Contato: alvaroposselt@yahoo.com.br
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
TERESA BENDINI
SOLIDÃO
Quisera pintar a solidão
Porque sou eu a luz que é dela
Na minha não tradução.
Que vasto mundo absorto,
De cores silenciosas,
Mergulho tão numinoso
Em luzes vertiginosas
Afetos só falam mudos,
Palavras são estrangeiras,
Olhares têm só vislumbres,
Dos mundos que nela beira.
Solidão, tu és Deus de tão sozinha!
Tu és alma minha!
Inteira!
POEMA SÓ
Não pense nada que não te faças extasiar.
Não pense política ou futebol.
Não pense notícias de jornal.
Não pense o mal.
Não pense mal.
Pense só!
O lá.....
O sol.
O MAR
Gente e mar...
Tem algo em comum
Um movimento
Uma linguagem
Uma linhagem
Azul?
Mar revolto
Mar grosso
Marola...
Mar que é calma
No fundo do mar
No fundo da alma.
No fundo dos olhos
Há mar
Amar o mar
No fundo dos olhos
Molha
O mar no fundo dos olhos
Olha
O mar no fundo dos olhos
Molha.
Mar morto
Mar negro
Olhos marejam
Vermelhos...
Vermelho mar.
Do fundo do olhar
Gotas de sal
Ondas do mar
Rolam...
O amor
O amar
MARTELINHO DE ESCULTOR
Meus filhos são poemas secretos
Meu olhar julgador
Não sabe lê-los.
Pensa que são: - Obra-Prima.
E neles fica batendo,
Com martelinho de escultor,
Conselhos e filosofias...
Achando que são: Obra minha...
Os filhos do meu Amor!
MANHÃ
Queria por manhã nos meus momentos,
Pois é sempre manhã no tempo em que pertenço.
Eu queria que manhã fosse...em todos os momentos.
Só assim, ela seria minha ...e à vontade.
Brinco com ela de ser eterna e ela se espreguiça.
De manhã eu aconteço!
Manhã... e eu já brilho.
Manhã... e eu já vivo.
Manhã... e eu sou radiante.
Manhã... e eu amanheço.
Queria minha vida de manhã.
Uma manhã de vida.
Passo uma manhã com minha vida
E já não quero que ela passe.
De manhã, eu a quero toda...
E a chamo: Manhã
ABELHA
Abelha que quando pica,
Morre
Quisera eu ao picar,
Morresse
Eu não sabia que ao ferir
Morreria
Já morri tanto e tantas Vezes...
Se soubesse, não Morreria
Quereria viver
Morrer, não ousaria
Quereria viver
Viver tanto e tantas Vezes
Que ferir, não saberia
Bishop (in memorian)
Ser infeliz não chega a ser mistério
Ser infeliz não trás em si nenhum mistério
Que mal há em achar o mundo agônico
Em sentir-se:
Escroto
Estorvo
Em querer-se morto,
Que mal há?
Posso dizer que ser infeliz
É tão comum.
Não vejo nisso mistério algum.
Mas em sorrir...
Há
UM!
Da nova geração de escritores de Taubaté (SP), autora de livros infantis e ativa participante dos Movimentos Poetas do Vale e Confraria do Coreto.
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