PROCURA
Para te encontrar
Escalo teus andares
De formas circulares
De raros exemplares
Irei a todos os lugares
Por rios ou mares
Por terra ou ares
Cafés e bares
Boliches e bilhares
Sebos e bazares
Igrejas e lupanares
És jóia sem pares
Gestos tão vulgares
Lábios carnudares
Seios sem siliconares
Ancas rebolares
Pedirei ajuda de militares
Embaixadas e consulares
Apoio de familiares
Gratificarei a quem achares
Volta, Stella Maris!
ESCORRÊNCIA
O amor está nítido
Na menina dos olhos teus
Que se derrama cristalino
E aquoso
Inundando o coração
E por não suportá-lo
Às costas
Abre suas comportas de néctar
Que hidrata o corpo
Entorpecendo-o
Juntando-se ao âmbar
Do triângulo invertido
Lacriminoso
Onde encontra sentido
Vertendo ao mar
O PESCADOR
Outra manhã
Outro dia
O mesmo horizonte
O mesmo mar
O mesmo Céu aberto
O mesmo barco tosco
Deslizando no azul adentro
Perseguindo cardumes fugidios
A mesma cantilena
A mesma voz rouca
As mesmas rugas
Acentuadas pelo sol e salitre
Denunciando a idade
O mesmo temor
A mesma incerteza
O mesmo amor
A mesma esperança
MEU AMOR É ANGOLA
Levanto âncora
Iço velas
Singro águas
E ares
O mar sangra
De emoção
Deixarei saudades no porto
Mas, trago-me no coração
Ao encontro do meu amor
Desde outrora
Em versos expostos
Penetrarei Angola
Sem armas, sem dardos
Sem grilhões, sem argolas
Mas, com elos e laços
E ímpetos de amor
BARRA DE JACUÍPE
Antes da barra
A ponta encimada
Do Jacuípe rio
De águas ferrosas
Que guardam
Profundos segredos
No coração
As feéricas ondas
Arrebentam
Azuis espumantes
Lambendo lençóis brancos
Cobertores e travesseiros
Que comportam a imaginação
Rio e mar
Em sol-maior
Céu azul sem dó
Que amarelece
Antecedendo a noite
E o véu negro floresce
De olhos brilhantes
DONA DO MAR
Tu vens do azul do mar
São ondas os teus cabelos
Sereia és por inteiro
Corpo-ilha de mil segredos
Teu corpo bonito oscila
Por forças de desejos
Dançam ancas quando tu andas
Palpitantes e belos seios
Sereia de água em perfume
Tenho de tu grande ciúme
Da mitológica realeza
Vens comigo dançar
Leva-me contigo ao mar
Quando acenderem as estrelas
COSME CUSTÓDIO DA SILVA, baiano de Salvador, escreve em verso e
prosa. Autor de Caderno de Poesias (2003), A Negativa do Corpo (2005), O Bicho
Homem (2007) e Recôncavo em Contos (2012), foi premiados em inúmeros concursos
literários. Pertence a diversas instituições literárias e edita o zine O
Garimpo, que circula nacional e internacionalmente. Os textos selecionados
acima fazem parte de seu último livro, “Amor e Mar”(2013).