quarta-feira, 30 de junho de 2010

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO


OSCULÁRIO
À Eunice

No ósculo há o deserto das palavras,

imagens que o tempo não guardou,
espelhos que refletem muita história,
vitória vencida que ficou...
No corpo, vago, virgem de desejos,

segredos das lembranças
restaram sonhos, cores, beijos...
O amor que, enfim, se transformou.
No ósculo livre da imagem,

passagem que em mim desembocou,
é o rio que passou como viagem
na flor floriu, desabrochou...


LONGE...

Guardo ainda comigo na memória
um pouco da saudade,
do amor,da vitória de um bem,
do olharque se tem ao se encontrar.
Ainda tenho, apesar dos anos,
os adeuses que foram ditos,
amores esquecidos,
lembranças malogradas.
Restam o consolo, o alívio,
o suplício, o sorriso e tudo.
A vida que insiste,uma boca,
um desejo, uma inspiração,
pois longe é muito longe e deixa mudo,
mas ainda é um lugar que não existe.


CIRANDA
Para Luiz Antônio Martins Pimenta

Do artista fica a arte.

Da arte fica a essência.
Da essência fica o sumo.
Do sumo fica o suco.
Do suco fica o sabor.
Do sabor fica o prazer.
Do prazer fica a vontade.
Da vontade fica o conhecimento.
Do conhecimento fica a palavra.
Da palavra fica o poeta.
Do poeta fica o artista.


RÉQUIEM III
Para Teresinha Tadeu

A negra lambe as feridas da alma
e cospe na cara do ouvinte, do leitor.
Cospe e ri.
Ri com sua cara gorda e cheia de dentes.
A negra grita com instintos de loucura
na sanidade da vida turbulenta,
com seu mundo vazio,
objetos de desejo
com lampejos de poesia racional.
A fome que percorre o seu estômago
é a fome do mundo e ninguém sabe...
A tampa de margarina serve de arte,
na arte louca das ruas,
na comida velha colada na roupa.
A negra enegrece o mundo com sua poesia crua,
sem pieguice, sem rótulos, sem amores sutis.
É apenas poesia.
Lá vai na memória
a negra que gostava de ser negra.


POEMA DA MANHÃ DE UM NOVO DIA

O novo dia está aí,
o teu rosto vem beijar-me a face,
retratos que mostram o que vivi,
o teu longo e caloroso enlace.

Há nos teus olhos a juventude esquecida,
os tempos passados nos segredos,
longínquas eras, alegria perdida,
ou quem sabe conhecer seus medos.

Não importa! Quero fazer esse poema do dia,
esse mesmo que o vento levou,
certa vez, no lugar que escrevia,
teus olhos pousaram no meu olhar que restou.

O silêncio! Aquele que tua boca ao me dizer
pronunciou, esperando um só achado,
o lacre dos segredos do viver,
quem em tua boca há de ter ficado!


UM MOMENTO

O hálito da noite percorre o meu corpo e o teu,
habita em mim o nosso sabor de vida que é meu,
que existe em seu olhar de desejos.
Semeio a tua felicidade
e a tua liberdade
coroada de beijos.
A noite é nossa e da lua.
A vida é bela e é tua.
O coração é do cristal mais puro
a passear pelos campos da memória,
tendo ao vento o sabor da tua vitória
e ao teu lado o segredo do futuro.
O hálito da noite não é mais tão sufocante,
tem o cheiro e o enigma dos amantes,
os mistérios que guardo no retrato depois.
Retrato este que cultivo aqui no peito,
que se confunde com teu rosto, desse jeito,
que se inicia na viagem de nós dois.


MINHA CASA

Minha casa tem canteiros
com begônias que eu plantei.
Minha casa tem amores
de amores que eu nunca dei.
Minha casa tem um velho
solitário que ainda vive.
Minha casa tem lamentos
retratos que eu nunca tive.
Minha casa tem janelas e vidros de algodão,
Tem pomares, tem flores feitas de coração.
Minha casa tem as cores
todas de tom bem forte!
Engraçado!
Minha casa não tem cheiro de morte.
Ah! Minha casa tem lugares
que ainda não conheço.
Minha casa tem esquinas
por onde quase padeço.
Minha casa tem artistas
cada qual tem seu papel. Qual serei?
Ah, minha casa tem saudade
dos sonhos que não sonhei.


SIMETRIA

A João Cabral de Melo Neto

Pedra e rio se confundem.
Lama. Pó. Sujeira. Pau.
Sonhos do norte se distendem.
Força. Solidão. Arrebol.

Faca e lâmina se afiam.
Som. Faísca. Fogo. Flor.
Símbolos de mentes se definem.
Sangue. Poeira. Vento. Cor.

Boca e voz a trabalhar.
Canto. Fato. Estribilho.
Choro e chuva faz calar.
Corpo. Esqueleto. Nosso filho.

Tudo é mistura nessa lida.
Vida. Morte. Sentencio.
Pobre morte. Pobre vida.
Toda dor tem um silêncio.


POEMA SEM TÍTULO II

Meu canto é como a água de um rio,
corre lento e mansamente,
povoa todas as frestas,ara todos os terrenos
e morre na seiva da terra.

Meu canto é como a água do planeta,
vive no vão das coisas,
nos mares bravios,
na plantação, na colheita,
na folhagem, no plantio.

Meu canto é como a água em que se banha,
é chuva, é cascata,
cobre tudo tipo mar,
despe toda alma impura,
causa amor, causa fartura,
na terra que semear.


WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO, autor de "Um Poeta na Rua" e vários livros artesanais. Tem alcançado vários prêmios e menções honrosas em concursos de poesia em âmbito nacional. Em 2004 foi um dos finalistas na fase regional do Mapa Cultural Paulista. Tem poemas publicados em vários fanzines, entre eles: www.gargantadaserpente.com, além de co-editar a revista Poetizando, é editor da folha poética O POETA e do fanzine ESCRITOS. Também edita os blogs: www.revistapoetizando.blogspot.com. www.fanzineescritos.blogspot.com

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