terça-feira, 9 de outubro de 2012

EDELSON NAGUES




IMPRECISÃO

O que mais espanta 
é o homem, sempre,
querer-se exato.

Pois sua medida
perde-se nas trincas
de seu próprio ato.

E, se o ato trinca,
permite o assalto
da imprecisão.

E esta, insolente,
espalha-se por tudo
(grama pelo chão).

Feito epidemia,
todos contamina,
alhures e aqui.

E o homem, pego,
perde a medida,
perde-se de si.

E, uma vez perdido,
o homem se lança
ao léu das palavras.

Mas estas, latentes,
menos se revelam
quanto mais se cava.

Mas revelam o homem,
que, à sombra delas,
tenta se esconder.

Ele, então, desnudo,
mostra-se inteiro
em um outro ser.

Só assim, desfeito,
o homem se refaz
da potência ao ato.

E, ao refazer-se,
torna-se complexo,
ainda que inexato.


MUNDOS

Solidão -este é o nome
do mundo a que pertenço.

Entre milhões, solitário,
carrego a vida in progress
e um projeto dr morte.

Sem plano de voo que o valha,
entrego-me a tal desdita
como quem se fizesse escravo.

II
No trajeto, me deparo
com seres também solitários.

Traçamos, então, paralelas
que insistimos trilhar.
Mesmo que olhares, mãos,
gozos e outras ânsias
se cruzem por linhas incertas.
(Pois solidões que se toquem
ainda serão solidões.)

III
De onde vem o solitário?
Qual a linhagem? a essência?
o ponto de interseção?

A resposta, em parte,
acaba por revelar-se
na face de cada um:

o solitário, por certo,
vem de outro mundo
-o de dentro.

O resto é só disfarce.


UNIVERSO

O nada 
é o limite
de tudo.

Não importa:
estou cego
e mudo.

Sigo
contando
estrelas.


NOTURNO DE RUA

Vagueio
no silêncio morto
      das ruas mortas.
Entre casas escuras.
Entre vidas escuras.
Entre sentimentos
      desmitificados.

O silêncio me invade
(e eu me transformo
      numa dessas ruas).

O silêncio está nos homens.

Somos, todos, ruas
     noturnas e desertas.


RESUMO

Não tenho nada a temer.
Por isso é que sou livre.

Não tenho tempo a perder.
Só vou aonde nunca estive.


EDELSON NAGUES é o nome literário de EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO, mato-grossense de Rondonópolis e radicado em Brasília. Poeta, escritor e servidor público, estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa, com vários trabalhos premiados em concursos literários no Brasil. Os poemas acima fazem parte do livro "Águas de Clausura", de 2011. Contato: edelnasc@yahoo.com.br