quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

JOÃO EDUARDO NETO





A Eternidade no Templo

Anjos
 Uma legião de anjos
Luzes que saem das frestas da garganta
 Preenchem a alma
Elevam
 Espantam...
Um templo adentro do tempo do som
 Mortais elevados ao céu por vozes....
 Tons musicais..
Um povoado de luz dançando entre seres comuns... Méritos aos ouvidos
 A alma inteira
 Ao espírito....
 Vibração incomum tocando a todos na unicidade...
 Um tempo
 Um templo
 Um momento
A eternidade...     



A Felicidade do Poeta
 A Felicidade do poeta
É  feita de pedaços dos segundos
Pedaços dos segundos
Segundos
Que ele tem em seu dia
É feita dos pedaços das pessoas
Pedaços das pessoas
Pessoas
Que ele vê no caminho
É feita das coisas que toca
Do amor que está ao lado
É a felicidade sentida e construída
Sentida e construída
Construída
Pelos momentos que vive
A felicidade do poeta
É feita dos pedaços que ele encontra no caminho
Pedaços do caminho
Caminho
Pedaços de vida
Felicidade de poeta
É pedaço de palavra
Pedaços de palavras
Poesias...


A Morada da Humanidade

Descubra seus desertos
Faíscas de seus mundos paralelos
A unicidade do que é eterno
Construa a primavera em seus invernos
Borde momentos em sua mente
Plante sentimentos em sua morada
Do amor lance a semente
Do universo faça sua estrada
Seja cada segundo
O tempo
A vida
O mundo
Desenvolva o absurdo
A simplicidade de tudo
Ame
Reflita
Expanda
Seja o Deus da terra santa
Emane, vibre, irradie
Desperte
Desapegue
Crie
Aceite
Agradeça
Sinta
Dentro de todos mora a verdade!
Faça de seu jardim interior
A  morada da humanidade...


Comunhão

A natureza é tudo que sou
Vôo com ousadia
Lágrimas sagradas me curam
As aventuras de um messias
Faço da realidade ilusão
E da ilusão realidade
Crio meus mundos paralelos
Estão neles todas as verdades
Levito como o vento
E pouso sutilmente
Sou feito dos pedaços espalhados no universo
Fragmentos, profecias, sementes
Minha alma nua não tem sexo
Meu espírito é livre
Só amo e me entrego
Intensidade
Certezas
Mistérios...


Conselho

Nossos momentos de tristezas são as boas novas de grandes momentos de alegria, existem motivos para tudo e mesmo que não estejamos no tempo necessário para nossa compreensão, quando o barro seca, brota a certeza em nosso coração de que tudo é como deve ser, e se o inverno chegou secando todas as nossas lágrimas com a geada e tirando toda a cor de nosso jardim, é por que ainda virá a primavera para colorir nossa alma e deixar que ela se limpe, e assim teremos a certeza de que cada detalhe em nossa vida é importante para nossa evolução....



A PALMA DO POETA

A  palma do poeta é pena
Tinta, pincel, dádiva
É o próprio poema...

O poeta desenha com as palavras
Ele esculpi, transcede
Pinta, ascende...

Há poesia na terra, nas folhas
Nos dons da pessoa
Na alegria, na nostalgia
Na noite  e no dia...

Há poesia
Na dança do vento
No canto das águas
Em uma estrada vazia...

O poeta é desbravador dos momentos
O poeta é heroi
Cativa, desvela, constrói...

O poeta te destina
Te descreve
Te rima

E dele nada se entende
Pois poetas são abstratos
Loucos
Paralelos...     



Poeta e Professor de Campos do Jordão, organizou a exposição “Desenhos e Poesias”, em 2012, na AmeCampos. Prepara seu primeiro livro.



                                               

sábado, 5 de janeiro de 2013

MAYNARD GÓES




A PROFECIA

E nossos filhos
 Viverão,
Neste mundo
De intempéries
E de tragédias
Na violência
Dos estames
E dos ovários,
Na esperança
Que a dinâmica
Vença a inércia
Dos que mandam,
Nestes dias
Sem flores
E sem carícias.


OS JANGADEIROS DO NORDESTE – CEARÁ (1983)
(Da praia de Iracema para o mar bravio)

Dentro do mar desaparecem
Nas vagas bravias do Nordeste.
A lua cheia sempre está no céu
Em clarões tão límpidos
Gravando o canto das sereias.
A brisa do mar é sibilante
Nas dunas alvas que passeiam.
Eles banham  a vida na luta
Diária do alto mar Atlântico,
Nas ondas que desafiam
Entre noites e cardumes
Nas redes de estrelas.
A solidão, permanece neles
No ranger das vagas na deriva
Que o continente forma...
Longe da terra, se voltam, ignoram!
Mas os seus filhos,
Rotos ali padecem aguardando
Este regresso,
Noites inteiras nas areias.


A MÃE

Quando
O casebre dorme,
Ela pode olhar
Dormindo,
Todos os filhos...
Todos dormem
No mesmo leito!
Ela então percebe,
Na noite que vagueia,
Fria,
A rudeza do instante.
Vê-se neste
Mundo sem futuro!
E pensa,
E repensa,
Entre lágrimas,
Neste amanhã de melhoria,
Que não chega nunca!


O CAMPO

 E o rio se alonga
No matagal rasteiro
E verdejante,
Onde o passaral entoa
Cânticos,
E o sol que se destaca
Ilumina a esperança.
Ali, a terra é grande,
E o caboclo carpe
Lentamente o campo.


A SOLIDÃO

Na madrugada,
O céu tão límpido,
Pálida lua
Passeia no firmamento.
São horas vagas,
E dentro de mim
Campeia este silêncio.
A noite é eterna
Fulguração dos namorados,
Como aquele vulto
De mulher bonita
Que não me deixa dormir.
Os olhos retornam
A caminhada da noite,
Enquanto a solidão
Geme dentro de mim.


CAMPOS DO JORDÃO
(pela madrugada silenciosa)

Dorme,
Minha cidade serrana
Neste céu de estrelas
Fulgurantes.
Dorme,
Deixa-me ouvir distante
O latido febril
Dos cães vadios das estradas.
Dorme,
Minha cidade serrana,
No silêncio das cordilheiras,
Nos braços dos pinheirais.


OS CRAVOS

Cravos vermelhos
Que de portugal jogam
As moças,
Já perfumaram o mundo!
Cravos vermelhos,
Cheias as jarras,
Que os líbios cantam.
Este sol que nasce
Na primavera social
Doss tempos.


A NOITE

A noite,
Se tem mistérios,
É dessas estrelas
Que pintam os céus...
É dos corações
Que se amam
E se recordam
E se perpetuam
Na saudade.
A noite,
Se tem mistérios,
É dos velhos segredos,
É de todos os beijos,
Que se esgotam
Nas bocas e nas mãos
Que se afagam.


O TRABALHO

No lápis,
Tenho a minha
Enxada,
Nestes momentos
Comuns
De poesia
E de trabalho.


O POVO

O povo
É este que
Ama,
Que odeia,
Que esquece.


 DANÇA

E me chamaram para
Ver a dança...
O povo que invade a praça.
Que ri, que canta, que dança!
É o amanhã que esperam,
Manhã que não tarda
Depois da noite de estrelas!

Maynard Góes, advogado, jornalista, escritor e professor, é baiano de Salvador, radicado em Campos do Jordão desde 1964. Aqui foi vereados (presidente da Câmara Municipal) e Presidente da Academia de Letras. Os poemas acima fazem parte do livro “A Terra de Nossos Filhos”, de 1985.