domingo, 16 de dezembro de 2012

GERALDO TROMBIN

INVERSÃO DE PAPÉIS

Nada por aqui está mais como antes:
No ar, o revoar dos elefantes;
Pássaros ao chão em sons dissonantes;
O crescer desordenado dos infantes.

Nos rios, lampejos mil, alucinantes;
Nas nuvens, águas negras abundantes.
Nos campos, flora e fauna destoantes;
As pessoas vivendo como errantes.

Que está acontecendo, meu Deus do céu?
Por que essa tamanha inversão de papel?
Bom virando réu, mal bem para dedéu!

Decoro e honestidade sempre ao léu;
A natureza indo pro beleléu!
Difícil para alguém titrar o chapéu!


GARIMPAGEM

Na exploração,
Extração,
Na peneirada
Dessa tenra maior idade,
Sobrou bruto coração;
Valiosa jazida,
Preciosa pedra,
Sensibilidade qu´inda não medra,
Esperando ser lapidada
Antes da partida,
Da jaz ida
À lápide insculpida,
Ao tumular doce lar.


BORBOLETA & AR


Um pelo outro, deixa-se levar,
Vento, asas da imaginação,
Borboleta e ar.

Borboletear
Como lançadeira de tear,
Indo e vindo na fiação,
Tecendo em voos lúdicos, únicos,
A  arte de voar.


PRESEPADA

Após transformar
Em comercial
O espírito do Natal,
O soar do pequenino sino de Belém
Ficou muito aquém:
Virou uma presepada.
A noite que era tão bela
Sob a luz da vela da capela,
Hoje não representa mais nada!


DE LÍRIOS AOS DELÍRIOS

Apreciais a beleza dos lírios;
Acompanhais a fidúcia dos círios;
Pingais na irritada visão colírios;
Agradecei a luz dos lampírios;
Aprendei com a via crúcis, os martírios;
Sonhais aos montes, aos delírios.


VIDRAÇA DE POSTIGO

Estou eu mesmo, sozinho aqui comigo,
Contemplando o meu próprio umbigo,
Pagando caro por interminável castigo.

Estou eu "andarilhando" a passos de mendigo,
Suplicando pela segurança do abrigo
Onde habita o afável sorriso amigo.

Estou eu abrindo a minha vidraça de postigo
E, pela fresta, expondo-me a todo tipo de perigo,
Na esperança devolutiva do meu amor que ainda está contigo.


ÍNTIMA IDADE

Juntos,
O meu, o seu pijama,
Deitando e rolando
Na mesma cama.

Jogo de cintura,
Pano pra manga,
Pernas, pra que te quero!
Afagos, carinho e lero-lero.

O meu botão
Invadindo
A casinha
Do seu blusão.

Leito de emoção,
Deleite de paixão.

Geraldo Trombin (Americana, SP) é publicitário  e um dos escritores mais premiados do Brasil. Os poemas acima foram extraídos do livro "Só Concursados   - Diversos Poemas, Crônicas e Contos Premiados", de 2010. Lançou em 1981 o livro "Transparecer a Escuridão", de crônicas e poemas. Contato: gtrombin@terra.com.br

5 comentários:

  1. TENHO ESTE LIVRO MARAVILHOSO, COM DIREITO A DEDICATÓRIA E TUDO.
    PARABÉNS PELO POST!
    BELA HOMENAGEM AO AMIGO GERALDO TROMBIM

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  2. Obrigado, Lilly. Trombin e mesmo um escritor e tanto.

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  3. Obrigado, queridos... Vocês são "The best".

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