MÃOS DESUNIDAS
não serei o poeta do passado
embora dele me alimente
canto o presente
que Drummond não vê
nada de serafins
cartas de suicida
-os homens aterraram
a palavra amor
num canteiro de obras
as mãos desunidas
traduzem: os espinhos
inda sufocam as flores
CASA
faço do silêncio
a morada do ser
não lhe digo
palavras duras
nem amorteço quedas
apenas guardo
a concha
em que abrigo
a solidão dos homens
LEGADO
quando eu me for
ficarão as palavras
-aprendizado em surdina
no fundo do peito
dos ancestrais
entre lírios e versos
lição guardada:
engenho fincado à terra
desPERTENÇA
o que escrevo
não cabe em mim
extrapola o sopro da língua
e se faz terra
enquanto sou ar
com raízes fincadas
a palavra não aterrissa
brota qual semente
VIAGEM
entre preces
e véus
a roupa
esconde o nada
as flores calam
o banquete
inda a ser servido
por trás
dos óculos
a postergação
da nova casa
o morto já tem a dele
O TESOURO
nada fica em mim
mas nas cartas
que o temo envelhece
tudo dorme
no silêncio interior
onde está a chave da palavra?
FAXINA
a menina varre os dias
tenta limpar
a própria escória
como espantar o pó,
livrar-se do fardo?
longe daquela casa
passa o amor
ALTO-MAR
teias de solidão
no oceano
o navio não mais atraca
de nada servem
a âncora enferrujada
o mastro sem bandeira
a quilha
o radar
todos se foram
só o mar permanece
cúmplice dos desamores do mundo
RESGATE
não serei o poeta do passado
embora dele me alimente
canto o presente
que Drummond não vê
nada de serafins
cartas de suicida
-os homens aterraram
a palavra amor
num canteiro de obras
as mãos desunidas
traduzem: os espinhos
inda sufocam as flores
CASA
faço do silêncio
a morada do ser
não lhe digo
palavras duras
nem amorteço quedas
apenas guardo
a concha
em que abrigo
a solidão dos homens
LEGADO
quando eu me for
ficarão as palavras
-aprendizado em surdina
no fundo do peito
dos ancestrais
entre lírios e versos
lição guardada:
engenho fincado à terra
desPERTENÇA
o que escrevo
não cabe em mim
extrapola o sopro da língua
e se faz terra
enquanto sou ar
com raízes fincadas
a palavra não aterrissa
brota qual semente
VIAGEM
entre preces
e véus
a roupa
esconde o nada
as flores calam
o banquete
inda a ser servido
por trás
dos óculos
a postergação
da nova casa
o morto já tem a dele
O TESOURO
nada fica em mim
mas nas cartas
que o temo envelhece
tudo dorme
no silêncio interior
onde está a chave da palavra?
FAXINA
a menina varre os dias
tenta limpar
a própria escória
como espantar o pó,
livrar-se do fardo?
longe daquela casa
passa o amor
ALTO-MAR
teias de solidão
no oceano
o navio não mais atraca
de nada servem
a âncora enferrujada
o mastro sem bandeira
a quilha
o radar
todos se foram
só o mar permanece
cúmplice dos desamores do mundo
RESGATE
como posso resgatar
o que não existe em mim?
ao beijar a solidão
eu me dispo por inteiro
da escória que é o homem
na inútil tentativa
de ser Deus por um minuto
Luiz Otávio Oliani cursou Letras e Direito. Consta em mais de quarenta antologias de literatura. Participação intensa em eventos literários, jornais, revistas do País e do exterior. Recebeu mais de 50 prêmios. Publicou "Fora de órbita", Editora da Palavra, poesia, 2007, orelhas de Teresa Drummond e prefácio de Igor Fagundes; livro recomendado pelo Jornal de Letras, editoria dos acadêmicos Arnaldo Niskier e Antonio Olinto, em outubro de 2007. Em 2008, teve o poema "Teresa" musicado por Maury Santana no CD Música em Poesia, volume 1. "Espiral", com prefácio de Reynaldo Valinho Alvarez, orelhas de Astrid Cabral e foto do autor por Eloísa Batelli, é o segundo livro de poemas do escritor, publicação da Editora da Palavra, 2009. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, italiano e espanhol na Revista Ponto Doc número 7, edição de 2009.
Luiz Otávio Oliani cursou Letras e Direito. Consta em mais de quarenta antologias de literatura. Participação intensa em eventos literários, jornais, revistas do País e do exterior. Recebeu mais de 50 prêmios. Publicou "Fora de órbita", Editora da Palavra, poesia, 2007, orelhas de Teresa Drummond e prefácio de Igor Fagundes; livro recomendado pelo Jornal de Letras, editoria dos acadêmicos Arnaldo Niskier e Antonio Olinto, em outubro de 2007. Em 2008, teve o poema "Teresa" musicado por Maury Santana no CD Música em Poesia, volume 1. "Espiral", com prefácio de Reynaldo Valinho Alvarez, orelhas de Astrid Cabral e foto do autor por Eloísa Batelli, é o segundo livro de poemas do escritor, publicação da Editora da Palavra, 2009. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, italiano e espanhol na Revista Ponto Doc número 7, edição de 2009.
Graças ao seu blog, conheci a poesia de Oliani, uma poesia que vale a pena.
ResponderEliminarEntramos em contato e trocamos nossos livros. Fiquei muito feliz com a troca.
bj
Admiro há muito tempo a poesia do Oliani e fico feliz de vê-la divulgada também aqui. Abraços ao poeta e ao editor do blog.
ResponderEliminarOi, Benilson, com certeza, o blog, que já era bom, ficou ainda melhor com a apresentação de um dos grandes poetas contemporâneos. Oliani, há muito, merece ser lido pelo grande público, que poderá aplaudir - como ele merece - a sua poesia lírica, enxuta, humanamente verdadeira. Parabéns a vc pela sensibilidade da escolha. E a todos nós, leitores, que podemos chegar mais perto da beleza dessa poesia.
ResponderEliminarObrigado. Abraços do Tanussi Cardoso
Acabo de conhecer e já me encantei com seus poemas, a maneira simples de descrever o visível e o invisível.
ResponderEliminarObrigada Benilson!
Beijos
Mirze