domingo, 15 de abril de 2012

DAILOR VARELA




MÃE

Todo dia
mãe noite.
Madrugada às vezes.
Febre de amor
Incendiando
O espaço caseiro
De móveis ternuras
Envernizando filhos
Que se revelam
Nas gavetas
Da cômoda eternidade.


PARA MAÍRA


Visto a tarde solar
de vestido de organdi
e te imagino nuvem azul,
clara no meu horizonte
de pai e raiz da tua espécie,
menina feita em mim
presença cabelo e olhos
paternidade e eternidade
Dedos desenhando com desdém
a letra D do meu nome
da tua blusa escolar
Aprendizado de vida
que não te ensino
porque somente agora
sei caminhos de ouro
que engulo antes de sonhar
com tua ausência
insônia da tua voz
tímida e difícil
Telefone e medo


TARDE


Tardes mornas
mortificam a vida
Nuvens mortais
tingem veneno
gás carbônico
no rosto roto
do operário morto
bêbados vomitam
desesperanças
na toalha de plástico
da paisagem fórmica
um medíocre pôr-do-sol
anoitece o medo.


MEU PAI MORTO


Não escuto teu silêncio
de mortas palavras
fechadas na eternidade
do céu da boca.
A linguagem do morto
é um tempo vivo de lembranças
que se fazem marca de sangue
correndo nas veias,
herança de pai pra filho.

LUZ

Teu corpo é paisagem
bucólica, onde me deito
cansado de lutas cotidianas.
Encontro na flor do teu sexo
sementes que planto
por férteis campos de desejo
inquieto.


XII


Anjo, adormeces
em panos tingidos de vermelho
Acordas no longo verão amarelo
cantando uma canção colorida
que se espalha no quarto.
Não feche portas contra
minhas noites de insônia.

Jornalista e poeta potiguar, radicado em Monteiro Lobato, SP, um dos criadores do Poema-Processo e considerado um dos Cem Poetas Brasileiros do Século XX. Os poemas acima fazem parte do livro Escrevivências, de 1992.

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