
Elegia II
No meio da praça, ao meio-dia
Alguém triste.
No meio da rua, à meia-noite
Alguém triste.
No meio do quintal, roupa no varal,
Alguém triste
E, todos à procura de um Deus
Que não existe
Porque de tão imenso
Anula-se.
Em todo lugar
A qualquer hora
Essa coisa triste, mais triste
De sermos tão pequenos
De não vê-lo tão perto.
Mas Deus nos move
E nos amanhece.
Carpe Diem
Andaime a andaime
Tijolo a tijolo
Passo a passo
Massa a massa
Construo a casa
Da minha história.
O amanhã é depois;
Eu sou agora,
A vida me convoca
E não demora.
Tudo o que busco
E não me basta
Agendo para agora.
Mergulhado em alma
Aproveito o dia
Que o vento sopra,
A vida passa.
Mutação
Eu era onda
Na praia deserta,
Agora sou marcas na areia
Que as águas apagam.
Eu era ânsia
De quem tem sede
De pegar o trem que passa,
Agora sou mágoa
De saber que o trem
Não volta.
Eu era céu
Que o mar abraça,
Agora sou réu
Por ser de areia.
Meu consolo
O mar sabe:
O sal das águas
As mãos que sangram
Sara.
Porto Alegre
Porto manso
Tenro amor
Desde o primeiro
Instante das águas.
Porto Alegre, se alegra
Em ti meu corpo,
Âncora única
Nesse porto meu.
Só meu, só solidão,
Amada busca só
Amada fuga
E a brusca tentativa
De começar tudo de novo.
Porto Alegre é rima única,
Quero-te por inteira,
Amada selva!
Arroz na Tarde
Vieste caminhando
Mas nem precisavas das pernas
Porque eu sei
O que tu tinhas.
Tinhas o que não tenho
Mas tenho o que me atrevo.
Vieste me sonhar
De que eu poderia
Ter o que não tenho
Mas tu sabes
Do que estou falando
Embora não me entendas
Mas me entendas...
Eu posso a metáfora
De voar sem ter asas
Porque só tenho pernas
Mais o desejo intenso
Que me entendas...
Lição
Acostumei-me
Conjugar vento e sangue
Viajando o mapa.
O primeiro é selo
Com o qual registro o medo;
O segundo é roda
Movendo a carne di sopro
-Razão dos olhos úmidos.
Acostumei-me contigo
Equação da ponte ao abrigo,
Desaprendi a fugir do rio.
Assalto
Drummond me conduziu
Da pedra à pedra
(só o rosto dele).
Roteiro azul
No corpo ferido,
O pano físico
Cobrindo o querer-se.
Sem alarme no assalto
Quero mais é abismo
Incendiando motivos.
Quintanares
O pão para a fome
(a outra fome)
Nasceu de lua in(esperada),
Da solidão nas esquinas,
De um felino varanda
Nasceu de lâmina cálida
Como, sempre, foi acesa
No hotel Majestic, a madrugada.
Dessa matéria in(visível)
De silêncio que não cala
De sapato velho de criança,
De frágeis flores
Entre sal e pedras,
De um copo d’água, às pressas,
Na Selva, às seis da tarde
São teus filhos, sempre, aurora
No espelho das águas do Guaíba
E o por-do-sol, do mesmo rio,
O fogo das pa(lavras).
E se Alegrete é um trem
Que ficou na curva da estrada
Agora somos nós, Quintana,
Que tomamos chá com teus fantasmas.
Há um louva-a-deus
No parapeito da janela,
Indisfarçavelmente verde.
É preciso ver
Com os olhos da alma
E ter fome sempre!
Gaúcho de Veranópolis, é autor de Espelho das Águas.
No meio da praça, ao meio-dia
Alguém triste.
No meio da rua, à meia-noite
Alguém triste.
No meio do quintal, roupa no varal,
Alguém triste
E, todos à procura de um Deus
Que não existe
Porque de tão imenso
Anula-se.
Em todo lugar
A qualquer hora
Essa coisa triste, mais triste
De sermos tão pequenos
De não vê-lo tão perto.
Mas Deus nos move
E nos amanhece.
Carpe Diem
Andaime a andaime
Tijolo a tijolo
Passo a passo
Massa a massa
Construo a casa
Da minha história.
O amanhã é depois;
Eu sou agora,
A vida me convoca
E não demora.
Tudo o que busco
E não me basta
Agendo para agora.
Mergulhado em alma
Aproveito o dia
Que o vento sopra,
A vida passa.
Mutação
Eu era onda
Na praia deserta,
Agora sou marcas na areia
Que as águas apagam.
Eu era ânsia
De quem tem sede
De pegar o trem que passa,
Agora sou mágoa
De saber que o trem
Não volta.
Eu era céu
Que o mar abraça,
Agora sou réu
Por ser de areia.
Meu consolo
O mar sabe:
O sal das águas
As mãos que sangram
Sara.
Porto Alegre
Porto manso
Tenro amor
Desde o primeiro
Instante das águas.
Porto Alegre, se alegra
Em ti meu corpo,
Âncora única
Nesse porto meu.
Só meu, só solidão,
Amada busca só
Amada fuga
E a brusca tentativa
De começar tudo de novo.
Porto Alegre é rima única,
Quero-te por inteira,
Amada selva!
Arroz na Tarde
Vieste caminhando
Mas nem precisavas das pernas
Porque eu sei
O que tu tinhas.
Tinhas o que não tenho
Mas tenho o que me atrevo.
Vieste me sonhar
De que eu poderia
Ter o que não tenho
Mas tu sabes
Do que estou falando
Embora não me entendas
Mas me entendas...
Eu posso a metáfora
De voar sem ter asas
Porque só tenho pernas
Mais o desejo intenso
Que me entendas...
Lição
Acostumei-me
Conjugar vento e sangue
Viajando o mapa.
O primeiro é selo
Com o qual registro o medo;
O segundo é roda
Movendo a carne di sopro
-Razão dos olhos úmidos.
Acostumei-me contigo
Equação da ponte ao abrigo,
Desaprendi a fugir do rio.
Assalto
Drummond me conduziu
Da pedra à pedra
(só o rosto dele).
Roteiro azul
No corpo ferido,
O pano físico
Cobrindo o querer-se.
Sem alarme no assalto
Quero mais é abismo
Incendiando motivos.
Quintanares
O pão para a fome
(a outra fome)
Nasceu de lua in(esperada),
Da solidão nas esquinas,
De um felino varanda
Nasceu de lâmina cálida
Como, sempre, foi acesa
No hotel Majestic, a madrugada.
Dessa matéria in(visível)
De silêncio que não cala
De sapato velho de criança,
De frágeis flores
Entre sal e pedras,
De um copo d’água, às pressas,
Na Selva, às seis da tarde
São teus filhos, sempre, aurora
No espelho das águas do Guaíba
E o por-do-sol, do mesmo rio,
O fogo das pa(lavras).
E se Alegrete é um trem
Que ficou na curva da estrada
Agora somos nós, Quintana,
Que tomamos chá com teus fantasmas.
Há um louva-a-deus
No parapeito da janela,
Indisfarçavelmente verde.
É preciso ver
Com os olhos da alma
E ter fome sempre!
Gaúcho de Veranópolis, é autor de Espelho das Águas.
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