O que mais espanta
é o homem, sempre,
querer-se exato.
Pois sua medida
perde-se nas trincas
de seu próprio ato.
E, se o ato trinca,
permite o assalto
da imprecisão.
E esta, insolente,
espalha-se por tudo
(grama pelo chão).
Feito epidemia,
todos contamina,
alhures e aqui.
E o homem, pego,
perde a medida,
perde-se de si.
E, uma vez perdido,
o homem se lança
ao léu das palavras.
Mas estas, latentes,
menos se revelam
quanto mais se cava.
Mas revelam o homem,
que, à sombra delas,
tenta se esconder.
Ele, então, desnudo,
mostra-se inteiro
em um outro ser.
Só assim, desfeito,
o homem se refaz
da potência ao ato.
E, ao refazer-se,
torna-se complexo,
ainda que inexato.
MUNDOS
I
Solidão -este é o nome
do mundo a que pertenço.
Entre milhões, solitário,
carrego a vida in progress
e um projeto dr morte.
Sem plano de voo que o valha,
entrego-me a tal desdita
como quem se fizesse escravo.
II
No trajeto, me deparo
No trajeto, me deparo
com seres também solitários.
Traçamos, então, paralelas
que insistimos trilhar.
Mesmo que olhares, mãos,
gozos e outras ânsias
se cruzem por linhas incertas.
(Pois solidões que se toquem
ainda serão solidões.)
III
De onde vem o solitário?
Qual a linhagem? a essência?
o ponto de interseção?
A resposta, em parte,
acaba por revelar-se
na face de cada um:
o solitário, por certo,
vem de outro mundo
-o de dentro.
O resto é só disfarce.
UNIVERSO
O nada
é o limite
de tudo.
Não importa:
estou cego
e mudo.
Sigo
contando
estrelas.
NOTURNO DE RUA
Vagueio
no silêncio morto
das ruas mortas.
Entre casas escuras.
Entre vidas escuras.
Entre sentimentos
desmitificados.
O silêncio me invade
(e eu me transformo
numa dessas ruas).
O silêncio está nos homens.
Somos, todos, ruas
noturnas e desertas.
RESUMO
Não tenho nada a temer.
Por isso é que sou livre.
Não tenho tempo a perder.
Só vou aonde nunca estive.
EDELSON NAGUES é o nome literário de EDELSON RODRIGUES NASCIMENTO, mato-grossense de Rondonópolis e radicado em Brasília. Poeta, escritor e servidor público, estudou Direito e Filosofia, com pós-graduação em Língua Portuguesa, com vários trabalhos premiados em concursos literários no Brasil. Os poemas acima fazem parte do livro "Águas de Clausura", de 2011. Contato: edelnasc@yahoo.com.br
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