domingo, 3 de julho de 2011
YAYÁ PORTUGAL
CONJUGAÇÃO À PARTE
Separa na dor, a razão;
Repara teu ser, emoção;
Esquece o destino, prossegue
Qual água da chuva que vai.
Sê forte, atura a missão
Que a terra pertence o teu chão.
Plantar com fervor enobrece.
Almeja o fruto, que és pai.
Prepara a semente, menção
Do sol reluzente à ação;
Fortalece, não esmorece,
Da graça da lida te faz.
Pondera à vontade a visão
Cruel do teu mundo, obsessão
À parte de ti. Apetece,
Da sorte o teu feito te sai.
LATINO - O ELO ENCONTRADO
Precisava de um guerreiro
Bem disposto. Planejava
Com Lavínia no terreiro
Um destino que almejava:
Conquistar o mundo inteiro.
Vem Eneas aventureiro
Precisando de uma clava,
Um apoio uno e derradeiro,
Porque a Grécia não deixava
Terminar o seu tinteiro.
Muitas lutas no seu meio,
Sofrimento que alijava
A subir um mar inteiro
E encontrar a sua tábua,
O seu remo, o seu roteiro.
Com Lavínia, tudo feito;
A donzela que aceitava
O papel casamenteiro,
A mulher que se enfeitava
Num contexto bem brejeiro.
D’uma união nasceu um herdeiro
O seu nome, Iulo, visava
Um futuro alvissareiro;
Alba Longa planejada,
De um eterno sobranceiro.
CALMARIA
Noite calma, calmo o vento;
Dorme o mar imorredouro,
Vela o sono o firmamento.
Some a nuvem com o vento,
Desce a terra sem estouro;
Gira a vaga e o cata-vento.
Cada feito tem seu tempo
Cada flor, o seu tesouro.
DESCRENÇA
Perdi o eclipse lunar,
Não vi a lua encoberta;
A cheia atrai o meu sonhar.
Fechei a tela e o solar,
Liguei o som que desperta,
Livrei o sol de um azar.
Não creio em bruxa a avisar,
Não creio em sorte de estrela;
Não saí desse lugar.
IRONIA
Jegue pacato, fiel e distinto,
Segue o seu arreio na lida avaliada
De aço puxado ao passo seguido;
Sina de ensino à pelo no instinto.
Manso cordeiro de alma vestido
Segue o pastor em busca da malha
Fresca ao calor do sol estendido;
Despe-se e veste um pobre sofrido.
Pombo-correio, o carteiro auferido,
O anjo esquecido ao céu se dispara
Na ânsia da entrega ao tempo pedido;
Cumpre o papel na data marcada.
Bicho fez-se homem, barro fundido,
Osso e costela, sobra da escala
De ânimo próprio, de único tino.
Sonho de luz, que esparja a palavra!
GRAÇA
A prática sugere o caminho
Da lavra, ser que segue a montanha
Perdido num aviso vazio
De setas na pegada tamanha.
Resvala numa ponte de alinho
Por sorte inesperada à façanha,
No modo desejado ao divino
Pinçado, um escolhido na manha.
A ação imune ilumina esse tíbio
De ideias desarrumadas à lama,
Descaso na dureza do sino
Batido e calejado na tampa.
A ponte se partiu num arrimo
E o que era não foi mais a montanha,
Foi arcada e proteção, no carinho
Do abraço, a salvação dessa apanha.
INGENUIDADE
O moço do amendoim
Avisa que a fornada
Está chegando ao fim
Aos ares da animada.
A malta foi mesclada
Nas voltas do carmim,
De versos encantada,
Que iludem a ti e a mim.
Passou suave esse ínterim
E foi-se o trem na esteada;
Na turba do alecrim
Não sobra um na passada.
Os fogos de festim
Enfeitam a encerrada
De luzes ao jardim
Na chuva iluminada.
MATANDO A SAUDADE
Os velhos nas praças,
Nos bancos sentados,
Relembram pirraças.
Cavalos montados,
Correios e vidraças
Dos passeios passados.
Precisam das praças,
Dos jovens e dos dados.
Notícias e graças
De vida, contados
Por outros comparsas,
Iguais e abraçados.
Respiram desse ar;
Ao céu enamorados
E, cuidam das garças
Que passam aos lados.
Nos céus engendrados,
Divertem-se amados.
E voltam às casas
Alegres, cansados.
Felizes quais traças
De livros guardados
No fundo das caixas;
Papéis decorados.
Paranaense de Curitiba, poeta, contista e cronista com participação em Antologias. Veicula o Blog www.arteseescritas.blogspot.com . Contato: yaya.curitiba@terra.com.br.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Belos poemas Yayá - adorei essa saudade e consegui ver os idosos sentados na praça. Parabéns!
ResponderEliminarBenilson, é uma honra muito grande ver os meus poemas postados por você. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminar