segunda-feira, 17 de maio de 2010

ANDRÉ BIANC


Contra a Corrente
Romper com os paradigmas autoritários
Criando um novo pensamento existencialista,
Para que os modelos medíocres e imaginários
Fiquem restritos apenas aos psicanalistas.
Entender que a loucura é a mais pura razão
E vítima desta roda-viva que tem nos esmagado,
Exigindo-nos a todo instante da cruel competição
Resultados convincentes e por ela manipulados.
Ter a consciência da nossa efêmera passagem
Por esta vida que somos meros coadjuvantes
E quem sabe tentar inserir nesta paisagem?
Nossa figura na breve posteridade entediante.
Romper com os paradigmas autoritários
Criando um novo pensamento existencialista,
Conquistando cada canto do tempo perdulário
Mesmo que toda retrógada corrente resista.


Miséria
Voaram meus pensamentos ousados
Com as asas da noite vã e estérea
Pelos vales psíquicos famigerados
Desprendidos da humana matéria.
Inda que mesmo ora involuntários
Sucumbem numa compulsiva febre
Em cada canto dos fatais imaginários
E com todo o coletivo que se quebre.
E terão eles a anunciada liberdade ?
Como o animal do primitivo instinto
Entre as lutas da ilusão e da verdade
E nas ações que represento e sinto.
Voaram meus pensamentos cansados
Secou todo o sangue na frágil artéria
Vamos morrer de certo enganados
E sepultados em nossa própria miséria.


Canção Confusa
Sou o acontecimento adiado
Em tantos enigmas vazios
A face no espelho entediado
Por detrás de espíritos vazios.
Sinto a dor do choque real
E do inconformismo moderno
Flores bóiam em águas de sal
Pelas ondas do amargo eterno.
Ouço o meu poema imaginário
Sendo declamado pelos mortos
Figurantes de um velho cenário
Em atos, falas e roteiros remotos.
Ah ! cidade minha dos ausentes
Das letras que tecem finas malhas
Em cada fio do meu inconsciente
E nos frios cortes das navalhas.
E fica o poeta e o seu ócio dilema
Delirando em sua pseudo-arte
Sem saber que é extrema
A ingênua iria que em teu peito arde.
Morre o homem , o pífio anti-herói
Coadjuvante desta confusa história
Terás apenas a ferrugem que corrói
As lembranças de sua vã trajetória.



Inalcançável Amanhecer
Desigualdades incompatíveis
Obviedades longas por viver
Em todas as partes invisíveis
Um novo corpo apodrecer.
Com tantas palavras não ditas
E amores jamais finalizados
Apesar das promessas malditas
Dos velhos Deuses decapitados.
Ignoremos então a nossa morte
Certeza única e alentadora
Muito mais que azar ou sorte
A vida numa trilha desoladora.
Por fim restarão todos os pecados
Daqueles sem o menor perdão
Cometeremos os mais variados
Sem tempo para uma só reflexão.
Desigualdades incompatíveis
Obviedades longas por viver
Muito além da racionalidade
E do inalcançável amanhecer.


Adagio n° 19
(Ao Arka Hare )

Descansar as palavras na boca
Regurgitando os sonhos futuros,
Em quadros , miragem tão louca
Expostos em penhascos obscuros.
Evocar a luz em plena escuridão
Pisando nos degraus da insanidade,
Chamar os inimigos em mutirão
A declamar poesias pela cidade.
Ao final, habitar em ti , cemitério ...
Para decompor o sombrio passado
E sepultar vivo esse frágil mistério
Em covas de perdão e pecado.
Descansar as palavras na boca
Regurgitando os sonhos futuros,
Concluir que a vida é tão pouca
Pichando os sonhos nos muros.


Direções
Veja por onde andava
Rastro de pensamento,
De tudo, nada bastava
O existir do momento.
Do tempo, eu aliciava
As horas tão inocentes
E logo a noite acabava
Em espelhos dementes.
E aqui, aonde cheguei !
Dentro de mim calabouço,
Jamais saberei o que sei
Sequer num leve esboço.



Canção do Amanhã
Exilado no tempo e na distancia
Sobrevivendo em lapsos improvisos
Sem uma linha reta ou constância
E perdido pelos caminhos indecisos.
Enfrentar a morte certa, corajoso
Entender o efêmero de tudo sempre
Deleitar-me do momento em profuso gozo
Impedindo que a mediocridade adentre.
Restabelecer então os descuidados dias
E a essência perdida da lasciva alvorada
Sem que as horas raras fiquem vazias
E nem a humana loucura questionada.
E por fim, desfilar com a fina mortalha
Pelos prometidos espaços umbrais
Abraçado com a derrota desta insana batalha
Até que tudo silencie e fique em paz.



André Bianc, nascido a 17 de junho de 1957, na cidade do Rio de Janeiro, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Participou de diversos movimentos poéticos, é o idealizador e organizados do Concurso de Poesias Poetas do Vale em Taubaté, ( já na 8ª edição), um dos fundadores da Confraria do Coreto (www.confrariadocoreto.no.comunidades.net) , que apresenta semanalmente o Sarau das Sextas.

2 comentários:

  1. Sr Andre parabens todas poesias são lindas mas a que mais me tocou foi Canção do amanhã felicidades Braga.

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  2. Também gostei da Canção do Amanhã. Persevera e força na pena!

    Abraços e sucesso!

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